Foi tão rápido. Em breves
instantes e mais uma etapa estava encerrada. Parei, como se tivesse acabado de
subir uma escada muito alta. Respirei fundo, o coração acelerado, tentava
colocar as idéias ordenadas, mas tudo parecia confuso. Olhei em volta, parecia
conhecer onde estava, era familiar e pensei, estou de volta, e agora?
Passou tão depressa que naquele
momento eu não consegui avaliar nada. Fiquei parado, estático, parecia dormir,
mas a mente estava alerta. Sabia onde estava, quem eu era e porque voltara, mas
faltava ordem no pensamento. Não via ninguém, era hora do “eu”,
“comigo”. Não havia cobranças, nem reclamações, nem lamentos. Sequer
ouvia o barulho do vento que eu sabia soprava ao longe. Nem um canto de pássaro,
nem o borbulhar de águas. Só eu, para dentro de mim mesmo, tentando desvendar
meus próprios questionamentos.
Mas parece que foi ontem. Parti
para mais uma batalha de mim para comigo. Em local desconhecido, onde o “eu”
criança iria conhecer, o “eu” jovem iria desbravar, o “eu” homem iria
conquistar e o “ego” experiente iria devolver todas as conquistas antes de
partir. Tinha que devolver, disso
eu sabia, se quisesse voltar para onde vim. Pois sabia que só entraria com as
experiências e algumas feridas. O “ego” adormeceria, o “eu” superaria,
e eu me perguntava, até quando?
Toda vez que tentava o caminho de
volta, o “ego” despertava e o “eu” adormecia, e as coisas ficavam sempre
mais difíceis por conta dessa inversão. Mas era necessário, eu sabia,
pois cada vez mais que ele despertava, sua força parecia diminuir. Mas só
quando eu voltava é que assim percebia, pois o “ego”, desperto, não nos
permite perceber nada mais além dele, de suas necessidades e de suas
conquistas.
Cada vez que descemos as escadas,
de volta, não percebemos que somos domadores de feras.
O “ego” desperta para ser domado e o “eu” adormece para ser
acordado. Conforme descemos os degraus dessa escada, esquecemos os sentidos do
“eu” e só recordamos os
sentidos do “ego”. A fera em nós desperta e através dos seus cinco
sentidos busca sobreviver.
Aqueles que conseguem não se
esquecer dos sentidos do “eu” e mantém
o seu “ego” limitado a um espaço pequeno, não sofrem as atrozes
dores advindas dos sentidos do “ego”. E para nós que não domamos esse
“ego”, fica difícil compreender como é possível controlar o que para nós
são forças muito aquém do controle dos cinco sentidos limitados do “ego”.
O “ego” subjuga, o “eu” é uma conquista.
Por isso, cada vez que subo as
escadas, me sinto confuso. Sinto falta do “ego” que começa a adormecer.
Sinto necessidade de ver as coisas limitadas, e um mundo de novos sentidos se
abre para mim. Outra vez eu sinto essa necessidade de expandir tudo que reprimi
quando desci as escadas para conquistar.
Fico tonto e
atordoado ao voltar, porque ainda, para mim, o instinto da fera está longe de
ser domado, e necessito cada vez mais empenho, não para subjugar, mas para
compreender, conviver e equilibrar em mim todos os sentidos, ressaltando a
importância que cada um tem, em cada etapa da evolução, a cada vez em que for
preciso descer os degraus desta escada em busca da evolução , do controle, e
principalmente do conhecimento de cada sentido. E, cada vez mais, ao descer,
saber que o meu “ego” estará sob o controle do “eu”, o que me permitirá
expandir cada vez mais o meu ser espiritual, de forma plena e completa,
tornando-me merecedor de descer os degraus da evolução com mais consciência e
felicidade, a outros planos, onde o entendimento do “eu” é pleno, onde o
“ego” adormecerá de vez, onde as oportunidades serão ilimitadas, dentro de
uma consciência plena e feliz.
Iehmad